domingo, 20 de março de 2011

O Mágico de Oz

             Para quem não se lembra, "um tornado levantou a casa com Dorothy e Totó dentro, e a girou no ar. Quando a casa finalmente bateu no chão, e Dorothy abriu a porta, saiu e chegou no multicolorido e visualmente espetacular País dos Munchkins".
            Dorothy quer voltar ao Kansas e para tanto vai procurar o Mágico de Oz. Nessa aventura, faz amizade com o Espantalho, que queria um cérebro para ter pensamentos inteligentes, o Homem de Lata, que tinha o sonho de ter um coração e o Leão Covarde, que desejava obter coragem. Claro que existia uma bruxa, conhecida como bruxa do leste, e o tal mágico.
Através do compromisso dos três amigos para ajudar Dorothy a voltar ao Kansas, todos acabam mudando. Imaginam que, se conseguirem chegar à Cidade Esmeralda e encontrar o Grande Oz, então ele vai poder dar o que precisam.
Em vez disso, é a viagem que os modifica. O Espantalho descobre que tem um cérebro quando o usa para ajudar seus amigos; o Homem de Lata descobre que é todo coração; e aquele velho Leão Covarde acha sua coragem no fim das contas. Cada um dos quatro personagens que viajam juntos pela Estrada das Pedras Amarelas é honesto e vulnerável um com o outro.

“Eles não escondem o que falta em suas vidas.”
Friso: é a viagem que os modifica.

Chegar à cidade Esmeralda. Esse era o desafio. Lá ficava o Mágico.
Costumávamos achar, como Dorothy achava, que o Mágico de Oz teria respostas e soluções. E, para isso, precisavam todos - ela, o Leão, o Homem de Lata e o Espantalho - chegar à cidade Esmeralda.
Tolo engano. Ao chegar lá, descobrem que o Mágico era um engodo.
Dorothy finalmente diz: - Oh... você é um homem muito ruim!
            A resposta do Mágico é antológica, simples e mansa:
            - Oh, não, minha querida, eu sou um homem muito bom. Sou apenas um péssimo mágico. (L. Frank Baum, O Mágico de Oz).
            Em suma, o Mágico não tinha respostas, e nem era um homem intrinsecamente mal. Era apenas um mágico ruim. E, apesar de o Mágico ser uma ilusão de ótica e uma "lenda urbana", mesmo assim o grupo conseguiu realizar seus desejos.
            Como? No caminho e ao vencerem os desafios para chegarem à cidade Esmeralda, a resposta não estava no Mágico, mas neles mesmos. A resposta nunca esteve, nem no País de Oz nem no nosso, fora de nós mesmos. O sucesso e a felicidade estão depositados na estrada e dentro de nós.
            Muitos esperam que a chegada à cidade Esmeralda (o primeiro milhão, a linha de chegada, o casamento) proporcionará o encontro com um mágico que solucionará tudo. Não é verdade. Não existe esse tipo de mágico. A mágica é a caminhada em si. A mágica é chegar à cidade Esmeralda, e não no que está nela. A capacidade de caminhar é que faz alguém resolver seus problemas, ou ao menos administrá-los, e esse é o maior legado que o caminhante tem para continuar na estrada, mesmo depois de encontrar algum objetivo que tenha escolhido. Existem outras cidades depois da cidade Esmeralda.
            O máximo que pode acontecer é na caminhada aprender que a mágica é a peregrinação. Ou, como disse João Guimarães Rosa, "vivendo se aprende; mas o que se aprende mais é só a fazer outras maiores perguntas".
            Mas como fazer essa peregrinação? Bem, aprendamos com Dorothy e seus amigos.
            O primeiro passo do grupo de amigos foi fazer as máscaras caírem. Dorothy confessou seu simples anseio por voltar para casa; o Leão, sua covardia; o Espantalho, sua limitação intelectual e o Homem de Lata, a falta de um coração. Não houve "máscaras".
            Em seguida, eles começaram a caminhar. Ninguém ficou parado lamentando seu estado.
            Para progredirmos em direção aos nossos sonhos, para nossa cidade Esmeralda, o primeiro passo é nos despirmos de nossas máscaras e reconhecermos nossas limitações. Tirar a armadura orgulhosa, a roupa de festa, arregaçar nossas mangas e mergulharmos no rio barrento do trabalho diário.
            O Grande Oz usava mesmo uma máscara. À primeira vista, a imagem do Mágico projetada na tela diante de Dorothy é impressionante e irresistível, mas quando Totó puxa a cortina, ela vê que o Grande Oz é só um velho falando em um microfone. Não sejamos como ele. Não nos escondamos atrás de uma cortina e de um bom facho de luz reversa. Mas imitemos o Mágico ao entender que a falta de habilidade específica como mágico não o tornava necessariamente uma pessoa ruim. E nem queiramos colocar em outra pessoa ou coisa a terrível e intransponível tarefa de dar solução para nossos problemas.
            Se você deseja que outro, ou alguma coisa, faça a mágica da sua vida, o problema está em você, não no pretenso mágico.
            O Leão pensava ser covarde, mas sem coragem ninguém chegaria à cidade Esmeralda. É preciso coragem para começar, para continuar, para voltar depois de uma impensada desistência.
            E é preciso um cérebro. Exatamente o que faltava ao Espantalho. Mas basta fazer como fez o próprio Espantalho: sem se intimidar com sua falta de "cérebro", ia caminhando, fazendo o que tinha de fazer, pensando, desconfiando de si mesmo exatamente por reconhecer que ainda não tinha o cérebro que só receberia do Mágico.
            Por fim, como nos ensina o Homem de Lata, é preciso um coração. O coração é a motivação, a capacidade de continuar caminhando, com coragem e inteligência, mesmo quando ainda se está longe da cidade Esmeralda, mesmo diante dos reveses, mesmo diante das dúvidas que vez ou outra nos assaltam. O coração é o dínamo que catalisa e equilibra a coragem e a inteligência.
            Desejo que você amadureça enquanto caminha.
            Que curta a família que puder, nem que seja só o Totó.
            Que encontre a inteligência que havia escondida no Espantalho.
            A coragem não de não ter medos, mas de enfrentá-los, como acabou percebendo o corajoso Leão, e um coração alegre e motivado como o que irrigou "óleo" em todo o Homem de Lata.

Nenhum comentário:

Postar um comentário